quarta-feira, 11 de novembro de 2020

O Jardim Duque da Terceira



O Jardim Duque da Terceira








1906 - Passeio Duque da Terceira (Jardim)






1887/1987 - Medalha comemorativa do centenário



Jardim Duque da Terceira localiza-se no centro histórico da cidade e Concelho de Angra do Heroísmo. Considerado um dos mais belos jardins clássicos do arquipélago, constitui-se no Jardim Municipal.

Está implantado no terreno outrora ocupado pela cerca do antigo Convento de São Francisco, onde atualmente se encontra o Museu de Angra do Heroísmo, elevando-se em patamares ligados por um declive - com caminhos desenhados com pedras de basalto -, até ao Alto da Memória, onde se erguia o Castelo dos Moinhos.

A sua construção iniciou-se em 1882, sob a gestão do governador civil Afonso de Castro, tendo recebido o seu nome em homenagem a António José de Sousa Manoel de Menezes Severim de Noronha, Duque da Terceira.
 
Quase que um autêntico jardim botânico, destaca-se pela variedade de sua flora, que compreende uma coleção de plantas exóticas reunida desde a época dos Descobrimentos, combinando espécimes tropicais e subtropicais com outros de regiões temperadas. Entre eles assinalam-se:







Destaque-se que as plantas encontram-se quase todas etiquetadas.

O jardim conta ainda com espaço próprio para crianças, mesas com bancos para piqueniques, estufa (atualmente em obras), coreto e diversos fontanários e pequenos lagos, além de bebedouros e casas de banho públicas.



1905 - Entrada no Jardim
A Ribeira de Angra, também referida como Ribeira dos Moinhos tinha como função o abastecimento de água potável e de escoamento das águas servidas, o seu aproveitamento como força-motriz para os estabelecimentos manufatureiros fez com que, históricamente, tenha sido um dos elementos que permitiu o povoamento e o desenvolvimento do núcleo urbano, em termos económicos e sociais. Desativada na década de 1950, atualmente são visíveis apenas alguns de seus troços, estando em discussão a sua revitalização e aproveitamento turístico.















Foi Álvaro Martins Homem quem terá reconhecido as possibilidades de aproveitamento das águas profundas e abrigadas da baía de Angra como porto. Terão contribuído para essa decisão os cursos d'água abundantes, oferta complementada por outros, que se precipitavam sobre a baía vizinha a leste, que delas recebeu o nome - Baía das Águas.

Os primeiros habitantes de Angra fixaram-se no alto do Corpo Santo, sobranceiro ao porto. 

Paralelamente, Martins Homem deu início à levada da chamada "Ribeira dos Moinhos", em seu curso fazendo instalar doze moinhos, cujos rendimentos lhe pertenciam, conforme Carta-régia.


Alto da Memória
Desse modo, as águas que desciam da serra do Morião, passaram a ser captadas e desviadas para uma levada em declive suave que se desenvolvia em curva, num leito artificial de pedra lavrada. O curso d'água ganhava volume no alto de São João de Deus alargando-se no pântano que existiu nos terrenos onde hoje se abre a praça Velha. Na altura do atual Alto da Memória as suas águas alimentavam o primitivo Castelo dos Moinhos, primeira fortificação de Angra, erguida na passagem da década de 1460 para a de 1470. 




Jardim "Duque da Terceira"
(ao fundo o Convento de São Francisco)
A julgar pelos nomes das antigas ruas, ao longo da nova levada implantaram-se doze moinhos, algumas alcaçatarias para tratamento de couros e peles, e um pisão de linho ou mesmo de pastel. Essa informação é confirmada pelas Cartas-régias de 1474, que doaram a Capitania de Angra a João Vaz Corte Real e a Capitania da Praia a Martins Homem, estabelecendo uma compensação para este último por conta das moinhos que ali feito com "grandes despesas" e que teria que abandonar.

Nos séculos XV e XVI, a ecónomia da cidade era dinamizada pela produção de farinha, têxteis, mobiliário, construção e reparação naval. Dos doze moinhos existentes no século XVI, contavam-se em 1956, ano de sua desativação, quarenta e dois, muitos azenhas e os demais de rodízio.

Ao final do século XVI, na obra Saudades da Terra, o cronista Gaspar Frutuoso assim descreve o abastecimento de água em Angra:


 
"Afora a ribeira do Telhal, que corre pela parte do oriente, perto da freguesia da Conceição, pelo meio desta cidade corre outra grossa ribeira de água, a qual vem ter ao porto, com que se regam muitos jardins que nela há e moem doze moinhos dentro, na cidade, que são serventia de toda esta parte do sul, a qual ribeira procede de várias fontes, que estão quase uma légua da cidade contra uma grande serra [serra do Morião], e ao pé dela mesma nasce outra fonte [Nasce Água], de muito cópia água, com arca fechada, da qual por canos vem ter à cidade e se reparte por quatro principais chafarizes, afora outro que sai junto do cais, donde se provêem todos os navegantes e armadas; e além disso, se reparte por todos os mosteiros e algumas casas principais, com que fica a cidade muito fresca e abundante; de modo que são por todos doze chafarizes (...)."

Conduta de água
De acordo com a Fenix Angrense, do padre Manuel Luís Maldonado, os doze moinhos de Angra moíam 48 moios de trigo por semana (cerca de 39 toneladas de farinha), nomeando-os:
  1. Moinho da Janela - gerido por Sebastião Roiz (ou Rodrigues);
  2. Moinho da Cova - gerido por André Dias;
  3. Moinho do Picão - gerido por Manoel Fragoso;
  4. Moinho do Rego - gerido por António de Sousa;
  5. Moinho da Madeira - gerido por Francisco Ferreira;
  6. Moinho da Calçada - gerido por João da Costa;
  7. Moinho Novo - gerido por Manoel d'Almeida;
  8. Moinho de São João de Deus - gerido por Manoel d'Almeida;
  9. Moinho do Muro - gerido por Nicolau Machado;
  10. Moinho das Duas Portas - gerido por Manuel Fernandes Carvalhal;
  11. Moinho da Calçadinha - gerido por Manoel Raposo;
  12. Moinho da Fabia - gerido por Manoel Fernandes.
Parte das águas da ribeira de Angra foi desviada posteriormente para o Alto das Covas, descendo para a cidade por meio de "arquinhas" (arcos).

Em 1600, o chamado "Cano Real" garantiu que parte dessa água chegasse ao Castelo de São João Batista.



Tanque do Preto
Em 1956 o multisecular curso de água foi desviado para alimentar as duas centrais hidroelétricas construídas para fornecer energia eléctrica à cidade a Angra. Na ocasião os antigos moleiros ganharam motores elétricos e a ribeira acabou por vir a secar. O curso d'água nasce na Serra do Morião, sobranceiro ao outeiro. 

O seu enrocamento, em cantaria de pedra aparelhada, estendia-se do alto de São João de Deus até ao centro da cidade, desaguando na baía de Angra. Alimentava o antigo Matadouro, na altura da moagem na atual rua do Pisão. São visíveis trechos nas traseiras do antigo Convento de São Francisco, atual Museu de Angra, onde ainda se observam duas canalizações: uma superior, destinada à água potável (que atendia a diversos chafarizes); uma inferior, destinada às "àguas sujas". Acima do chamado "Tanque do Preto" (antigo reservatório de água do convento), embora a canalização tenha desaparecido, são visíveis as ruínas dos moinhos que as aproveitavam.


RIBEIRA DOS MOINHOS


O verdadeiro trajeto original da Ribeira dos Moinhos, que moldou o desenvolvimento da cidade de Angra do Heroísmo desde a época do povoamento, promete continuar a dar polémica. Depois de Paulo Barcelos, dos Montanheiros, ter defendido, num artigo publicado na revista "Atlântida", que esta ribeira nunca cruzou, de forma natural, a baixa angrense, Humberto Oliveira, autor de uma obra que se debruça sobre o tema, apresenta outros argumentos.


Humberto Oliveira disponibilizou a DI o capítulo sobre a "Ribeira e os seus moinhos", incluído na obra "Angra na visão de Linschoten". Nesse capítulo, pode-se ler que, desde a serra do Morião até ao terreiro de São João de Deus, o percurso da ribeira é o mesmo. Depois, o povoamento introduziu alterações.

 
"Quando chegaram os primeiros povoadores a este local, o curso da ribeira, a partir do Terreiro de São João de Deus, seguia pelas ruas Frei Estácio (vulgarmente conhecida por caminho fundo), Pereira, Miragaia, Marquês, Praça, onde formava um lago ou paul, a partir daqui, entre as ruas Direita e Santo Espírito,  pelo logradouro das habitações até ao mar", escreve.

O cenário muda com a obra do capitão donatário Álvaro Martins Homem. Este "desvia a ribeira para efetuar o seu aproveitamento, de modo a abastecer de água as populações, mover os moinhos e azenhas". Assim, a partir do Terreiro de São João de Deus, a ribeira é, segundo Humberto Oliveira, desviada e canalizada, seguindo pela rua de São João de Deus, Pisão, Frei Diogo das Chagas, Ladeira de São Francisco, lado nascente da Praça e logradouro das ruas Direita, de Santo Espírito e Baixinha, desaguando junto ao cais da cidade, próximo da moagem ali existente.

Recorde-se que Paulo Barcelos sustenta que "esta ribeira nunca terá cruzado a baixa de Angra, contra aquilo que foi durante séculos repetido por cronistas e historiadores. Fluía sim pela Grota do Venial abaixo, afluía na Ribeira de São Bento e derramava sobre a Baía das Águas".

Já Humberto Oliveira vê a questão a outra luz. "Que eu conheça, os documentos mais antigos que temos sobre a ribeira são uma carta da Terceira de 1582, atribuída por Armando Cortesão a Luís Teixeira, o que eu concordo, pois também a estudei, uma carta da Terceira de 1587, assinada por Luís Teixeira, e a carta de Angra de 1595 que, segundo as minhas investigações, foi desenhada por Luís Teixeira e não por Linschoten. Nas duas primeiras diz-se que 'esta ribeira move 18 moinhos' e que nasce na serra do Morião e desagua na baía de Angra, junto à moagem da Firma Basílio Simões. A carta de 1595 tem desenhados nove moinhos e seis azenhas e tem no seu trajeto, por duas vezes, a designação de ribeira. Salvo opinião em contrário, tudo o que está desenhado na carta está correto, o seu trajeto desenhado é encosta da serra, nasce água, terreiro de S. João de Deus, Memória, S. Francisco, Praça Velha, logradouros das ruas Direita e Santo Espirito, rua baixinha, moagem. Luis Teixeira foi um dos nossos maiores cartógrafos... Todas as cartas da Terceira trazem esta ribeira desenhada, e todos os cronistas falam nela como a ribeira de Angra e ninguém fala em S. Bento", explicou.

Há um principal argumento: "Se a ribeira fosse para S. Bento, os moinhos teriam sido construídos sobre a ribeira e não temos nenhum moinho nessa zona. Então, a cidade ter-se-ia desenvolvido mais para esse lado, por causa da água potável", adiantou. Também ausentes em São Bento estiveram os chafarizes. A Praça Velha surge como "o lugar geométrico de toda esta bacia hidrográfica", defende Humberto Oliveira.

 




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